domingo, 2 de maio de 2010

Provando do amargo


Não estou pronta para engolir nada novo, cansei de viver esquecendo, preciso mastigar minha tragédia, de cara dura. Dizem que tenho mesmo cara pra tudo, informo que a partir de ontem isso está muito pior. Sinto minha face petrificada. A boca está livre para sorrir, e até tenho feito, mas em intervalos constantes me pergunto se estou bem – a resposta é sempre não.
Os olhos não estão liberados para chorar, eu realmente estou me esforçando muito para engolir a vontade de ter vontade. Não me permito nem chorar para dentro. Estou dizendo, estou entrando numa inércia maior que meu corpo ou minha mente podem ordenar, mais majestosamente esforçada do que todas vistas ou sentidas. Ninguém me entenderá, me olharão e verão a mesma cara, apesar de estar sorrindo para fora ou estar querendo querer chorar para dentro em certos momentos. Estou degustando minha tragédia, de cara dura, parecendo um gangster silencioso de olhos semicerrados. E isso é um estado interno e externo.
Não sei se estou caindo e não me dei conta, não me sinto em movimento algum. Será que posso chegar mais abaixo? Digo, já estive bastante desesperada e agora não me sinto assim. Parece que estou apenas me conscientizando da minha tragédia de viver. Tudo aqui escrito é tão consciente, tão real e tão fiel. Não é devaneio. Dessa vez não me sinto nervosa, ansiosa, não estou chorando, me mexendo, passando a mão nos cabelos, é tudo intenso de forma neutra. Tudo que está acontecendo é que meu coração está enrijecendo, petrificando, naturalmente isso.

Rosália Souza