sábado, 20 de junho de 2009

Encantos de Junho



Depois de certo tempo imersa em pensamentos banais, atentei para o espectro aurífero que inundava o quarto. De espanto, abri as janelas: o céu cobria-se de uma vestimenta encardida, os ventos eram fortes e as folhas agitavam-se, igualmente a mim, espantadas.O vizinho insistia em escutar o velho Gonzaga, sem se preocupar com a janela aberta que deixava entrar toda a ira divina.

“Nasci em meio a essa ventania”, lembrei-me! E enquanto lembrava e formulava um verso para aquele retrato, ela veio, silenciosa e anunciada, com seus membros diretos e impactantes, com sua tenacidade dissimulada e sua natureza deslumbrante. Quis molhar a face, recordando, quando, aos meus 12 anos, por volta, eu a esperava na rua, de olhos e peito abertos, e não como hoje, aos quase 18, atrás de uma grade, escondida ao canto da janela, admirando-a distante como algo intocável e cortante.

Antes eu sentia tudo como textura, hoje eu descrevo ternura: a imagem que os sons, os sentidos e os sentimentos me passam. Não me sinto mais triste nem mais feliz, só diferentemente encantada.

O prazer se renova, se revigora, se translada, mas sua essência é irrevogável.


Rosália Souza


sexta-feira, 5 de junho de 2009

Palavra, a maior das belicosidades


Enquanto houver vírgula
a poesia não finda.
Ideias a ter,

mãos a escrever.


Enquanto não houver esforço

haverá o eterno marco zero;

o ponto de empaque

o sentimento de um estorvo.

Enquanto houver pensamento
a estática é utópica,
barata, hipócrita.


Enquanto há vírgula
há império da vida,

a mudança se destina.

Rosália Souza