quarta-feira, 23 de abril de 2008


Eu não tenho o quê fazer, por isso me ponho a chorar. Não tenho o quê ou a quem escutar, por isso ponho minhas músicas que sempre roubam um pedaçinho de mim. E esses pedaçinhos não sei por onde se perdem, só sei que a cada dia sou cada vez menos eu. E vou assim... Me tornando não sei o quê, não sei pra quem, não sei porquê.
Pegar em um papel e uma caneta tem sido medilcre como um viciado que olha tentadoramente para sua droga: não querendo afastar, mas supeitando que deve; não com culpa, e sim com dó de si próprio; não com tristeza, sim com uma estranha solidão sendo compensada. Todos os dias de manhã quando me olho no espellho(nesse momento sou até confiante - em não sei o quê!), não sou isso que descrevo, mas é o que sou nas noites cheias de silêncio e frieza, assombrada de lembrança boas. E daí, durmo, os dias se seguem, não sei como. Hermeticamente, prossigo.

Rosália Souza

ps. Thom Yorke na foto.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Um domingo


Eu vi uma mulher de passos vagarosos, olhos cansados e lábios espremidos. Era um retrato de uma grande saudade, aquela velha vagueza que não há bebida que supra, pois esta evapora, não há cigarro, pois se espalha e some, não há nem mesmo um novo tipo de amor porque são todos fugaz, de pequenos momentos. Só há lembranças daquele velho amigo. Ela tenta, mas essa falta é bem maior e não cabe dentro de si, esborra nas caminhadas, nos choros e nas contrações da alma. Que falta que lhe faz o bom velho.


Eu vi uma jovem de olhos brilhantes e úmidos, um acanhado sorriso de esperança no cantinho da boca. Encontrava-se distraída na cama, observando o movimento dos familiares. Entendi que na verdade ela carpia a ausência do amado, e esperava que um dia ele voltasse. Permanecia quietinha, como se não tivesse ações, apenas reações motoras. Destino a ela a tolice da alegria e o encanto do amor. A verdade lhe causaria um colapso e seu sorriso se transformaria em lágrimas de amargura.

Eu vi uma criança, que como todas as outras, era movida por prazeres. Senti saudade da época em que era pequena e meu mundo era de paz, alegrias e desejos. Temo pelos seus primeiros não - lembro dos meus até hoje-, pelas rasteiras da vida, pelas maldades que cometerão contra ela, e maldades essas que para se defender ela também vai aprender a ter um pouco. Que teu caminho seja límpido, criança, e que tuas loucuras te levem a uma sabedoria útil.

Hoje eu vi um relógio correr, entre sorrisos, bebidas e distrações..
Perdão! Na verdade vi três relógios correrem...



Rosália Souza.