Até então, eu não havia planejado definição para que tipo de rosa minha vida me vestia. Foi quando avistei uma intrigante, misteriosa, poética e, meu deus, amarela! Não amarela como os raios de sol que exalam vida nas madeixas dos musos do Parnaso, mas amarela de velha, seca, uma postura murcha, esturricada mesmo dentro d’água. O que na realidade era busca de uma bela foto, tornou-se a busca do meu ser, tornou-se uma inquietante queda no abismo do meu ser.
Me encostei na janela, em busca de boa iluminação, tomei o vaso nas mãos com todo cuidado possível – afinal não poderia perder a bela foto. Acontece-me, então, inevitavelmente, a vontade de cheirar aquela rosa falsamente esguia. Senti como se estivesse resgatando um sopro de vida esquecido, minha alma parecia se fundir àquela imagem em sépia. Seu cheiro era forte em demasia, tão penetrante e instantâneo que fui capaz de ali mesmo, imersa na pouca luz daquela janela, formular toda esta poesia. Era forte e decepcionante. Tinha cheiro de mel! Uma verdadeira peça do destino, nada me enoja tanto como o gosto do cheiro do mel! E foi assim que compreendi, transpiro o que odeio.
Resgatarei o olor genuíno de uma arfante rosa rubra e forte como, ao menos um dia, julguei ser? Quem saberá? Talvez eu mesma saiba. Tenho muitas folhas e pétalas ainda a cair – por ação do cruel tempo, das chuvas que inundam meu quarto, dos grandes pisantes que destroem meu jardim -, mas tentarei sempre lembrar que logo após meu destroços caídos e arrancados pelo vento feroz das ventanias inquietas, existe também a renovação da minha fortaleza, pétalas encantadoramente marcantes, bem delineadas e penetrantemente rubras nascendo, tentarei sempre lembrar, que meu jarro vazio está sempre cheio de ar.
Rosália Souza – supostamente 28/07/09