domingo, 20 de janeiro de 2008

Um domingo


Eu vi uma mulher de passos vagarosos, olhos cansados e lábios espremidos. Era um retrato de uma grande saudade, aquela velha vagueza que não há bebida que supra, pois esta evapora, não há cigarro, pois se espalha e some, não há nem mesmo um novo tipo de amor porque são todos fugaz, de pequenos momentos. Só há lembranças daquele velho amigo. Ela tenta, mas essa falta é bem maior e não cabe dentro de si, esborra nas caminhadas, nos choros e nas contrações da alma. Que falta que lhe faz o bom velho.


Eu vi uma jovem de olhos brilhantes e úmidos, um acanhado sorriso de esperança no cantinho da boca. Encontrava-se distraída na cama, observando o movimento dos familiares. Entendi que na verdade ela carpia a ausência do amado, e esperava que um dia ele voltasse. Permanecia quietinha, como se não tivesse ações, apenas reações motoras. Destino a ela a tolice da alegria e o encanto do amor. A verdade lhe causaria um colapso e seu sorriso se transformaria em lágrimas de amargura.

Eu vi uma criança, que como todas as outras, era movida por prazeres. Senti saudade da época em que era pequena e meu mundo era de paz, alegrias e desejos. Temo pelos seus primeiros não - lembro dos meus até hoje-, pelas rasteiras da vida, pelas maldades que cometerão contra ela, e maldades essas que para se defender ela também vai aprender a ter um pouco. Que teu caminho seja límpido, criança, e que tuas loucuras te levem a uma sabedoria útil.

Hoje eu vi um relógio correr, entre sorrisos, bebidas e distrações..
Perdão! Na verdade vi três relógios correrem...



Rosália Souza.